IA: destilação, "pai - filhos" e ética na formação de executivos

A integração de tecnologias avançadas na formação de executivos, particularmente com a introdução de inteligência artificial (IA), requer uma abordagem tanto inovadora quanto ética. As escolas de formação de executivos que procuram impactos globais e posicionamentos e diferenciais competitivos positivos, devem ser, desde a primeira hora, claros adotantes destas tecnologias, não apenas para ampliar o alcance e a eficácia do ensino, mas, igualmente, para fazer emergir uma compreensão profunda das responsabilidades éticas associadas ao seu uso.
A formação de executivos, como qualquer formação, deve trabalhar para e com valores no sentido de formar pessoas completas e não apenas profissionais ou derivados de uma função de utilidade. A formação de executivos deve, portanto, ajudar a que os seus participantes estejam francamente mais bem apetrechados em termos humanos, em valores e práticas, em relacionamentos e em decisões que permitam utilizar ferramentas do domínio profissional com caráter ético e com matriz humana.
Entre as inovações mais significativas dos últimos tempos está (não apenas a IA generativa per se) a capacidade para se criarem "LLM" (Large Language Models) "filhos" a partir de "LLM" "pai" que, para que tenham sido possíveis, foram energeticamente mais penosos, utilizaram "GPU" (Graphics Process Units) de última geração a preços mais elevados e muitíssimas mais horas de treino. Porém, é fundamental saber se o "LLM" "filho" teve uma emergência lícita ao fazer a destilação do conhecimento a partir de um modelo "pai". Porque não basta fazer destilação para democratizar a IA. É preciso, claramente, perceber se algum normativo de propriedade intelectual foi violado para chegar a maior eficiência ou, dito em linguagem mais simples, a mais baixo custo.
Esta metodologia de destilação permite que os modelos "filhos" herdem as capacidades linguísticas e cognitivas do modelo "pai", mas com uma fração dos requisitos computacionais e energéticos. Vimos este caso recentemente, certo? Pergunta: esta destilação foi feita sem violar propriedade intelectual e sem quebrar barreiras éticas? Pois esse conhecimento deve ser também passado aos vários participantes na medida em que devem ser suas, em função dos factos, as opções a tomar no sentido de apelarem à integridade e aos valores que as escolas lhes devem incutir.
As implicações éticas destas tecnologias "filhas", não obstante, mais eficientes, são complexas e multifacetadas. A controvérsia em torno da utilização – como, em que circunstâncias, para que fins? – de modelos "pai" baseados em IA, vem claramente colocar em destaque opções – escolhas – que devem ser tomadas. As escolas de formação de executivos devem liderar diálogos deste tipo, apresentando alternativas, mas explicando a forma como foram obtidas, integrando nelas as discussões sobre ética, privacidade, uso justo e transparência nos seus currículos. Não basta ser mais eficiente, ou melhor, ter mais baixo custo e até funcionar em "open source". É preciso saber os meios para atingir os fins.
Enquanto a IA transforma a forma como se faz formação de executivos, as escolas que aspiram a uma presença global devem também abraçar o seu papel em moldar os líderes que não só deverão compreender as "nuances" tecnológicas da IA, mas, também, serem defensoras dos princípios éticos que devem orientar o seu uso. A destilação de conhecimento, enquanto facilitadora da inovação tecnológica, deve ser acompanhada de um compromisso renovado com os valores fundamentais de respeito, propriedade intelectual, justiça e responsabilidade humana. No final de linha, as escolas de negócios e de formação de executivos devem justificar a utilização de determinado meio, aplicativo ou outro, para atingir determinado resultado. E isso é ajudar a colocar o coração do lado certo.
Nota: está em causa, até ser comprovado, a alegada ilicitude da criação da aplicação DeepSeek a partir da violação de propriedade intelectual da Open AI (ChatGPT).
jornaldenegocios